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O metodismo e os direitos humanos: o grave problema da fome

    16 de outubro | Dia Mundial da Alimentação

     

    “Ouvi uma terceira (mulher) declarar naturalmente: ‘Eu estava tão abatida, tão fraca, que mal podia andar, até que meu cachorro,

    não encontrando nada em casa, saiu e trouxe uma boa quantidade

    de osso, que eu tirei da sua boca e fiz um belo jantar!’”

    (John Wesley, em Runyon, p. 234).

     

    No século 18, o termo “direitos humanos” não era comum, contudo, as questões sobre justiça, liberdade e o direitos eram amplamente debatidos, inclusive, por John Wesley. Ele teve grande preocupação com as liberdades individuais e, em especial, com a liberdade de expressão, as questões econômicas e a fome, como se pode ler na citação inicial, que revela o contato cotidiano de Wesley e seu conhecimento de causa, bem como sua preocupação com a escassez de alimentos.

     

    Em 1744, John Wesley pregou um sermão baseado em Atos 4.31-36. Neste sermão, ele destaca a abundante graça e amor que havia na Igreja de Atos, uma “Graça recebida e compartilhada”. Ele “estava convencido que o abundante poder e a presença do Espírito trazem uma nova ordem social e econômica”,

    quando a graça e o amor de Deus que recebemos são igualmente compartilhados, a Igreja não só testemunha o Senhor Jesus, mas é sinal de vida nova transformada por Deus.

    Em 1773, Wesley publicou um tratado sobre a escassez de alimentos. Neste texto, ele denuncia a monopolização das terras que expulsou camponeses pobres impedindo-os de praticarem a agricultura familiar e manter sua subsistência. John Wesley inicia o tratado Thoughts on the present scarcity of provisions (Reflexões sobre a atual escassez de alimentos) com uma pergunta que nós também precisamos fazer:

    “Primeiramente eu pergunto: por que milhares de pessoas estão morrendo de fome, perecendo pela miséria, em toda parte da nação?

    O fato eu conheço; vi-o com meus olhos, em cada canto da terra. Conheci alguns que só podem comer alimentos de má qualidade dia sim, dia não. Conheci uma mulher em Londres (e uma mulher que há alguns anos tinha todos os luxos da vida) que pegava peixes fedorentos do lixo

    e os levava para casa, para si e seus filhos. Conheci uma que recolhia ossos que os cachorros deixavam pelas ruas e com eles fazia um caldo para prolongar uma vida miserável”.

     

    John Wesley termina este trecho de seu tratado de um modo que se aproxima ainda mais de nossa realidade:

    Esta situação, hoje, de milhares de pessoas, numa terra que jorra, por assim dizer, leite e mel! Repleta de todas as necessidades, conveniências e superfluidades da vida!

    Wesley aponta para a contradição da miséria e da fome que são cercadas pela abundância não compartilhada.

    Também no Brasil, estamos diante do grave problema da fome; o país é grande produtor agrícola e convive com a fome crescente ao nosso redor. A insegurança alimentar, isto é,

    a falta de acesso à comida que diariamente afeta um número cada vez maior de pessoas em todo o Brasil, é agravada pelo desemprego e pelo aumento da inflação no custo dos alimentos.

    Atualmente mais de 116,8 milhões de brasileiros vivem algum grau de insegurança alimentar, seja leve, moderada ou grave. São 19 milhões de pessoas em insegurança alimentar grave, ou seja, seres humanos que passam fome todos os dias, sem acesso à alimentação suficiente para sua nutrição.

    Frente a essa situação, que se agravou com a pandemia do novo coronavírus, a Igreja é chamada a dar uma resposta habilidosa, a expressar sua responsabilidade e o seu compromisso de compartilhar concretamente a graça e o amor recebidos de Deus, proclamando o direito e a justiça, que são sinais do reino de Deus em nosso meio.

    Não é possível se manter insensível e apático frente a tamanha dor e grave violação de um direito fundamental: o direito à segurança alimentar e nutricional. Como discípulos e discípulas de Jesus somos ensinados a sermos o “canal da bênção” de Deus neste contexto de enorme sofrimento e a jamais despedir a pessoa faminta sem o auxílio necessário.

    A Palavra de Deus nos exorta a testemunhar nossa intimidade com Deus de forma prática e concreta neste mundo:

    E, se o irmão ou a irmã estiverem nus, e tiverem falta de mantimento quotidiano, e algum de vós lhes disser: Ide em paz, aquentai-vos e fartai-vos; e não lhes derdes as coisas necessárias para o corpo, que proveito virá daí? Assim também a fé, se não tiver as obras, é morta em si mesma – Tiago 2.15-17.

     

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    Referências utilizadas no texto:

     

    BÍBLIA SAGRADA. Almeida Revista e Atualizada.

    RUNYON, Theodore. A nova criação. A teologia de John Wesley hoje. São Bernardo do Campo: Editeo, 2002.

     
     

    Assessoria de Direitos Humanos da 3ª Região Eclesiástica da Igreja Metodista

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