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3ª Região Ecesiástica

Somos a Igreja Metodista na 3ª Região Eclesiástica. Uma divisão geográfica da Igreja Metodista no Brasil. Fazemos faz parte de um conjunto de regiões que foram criadas para melhor organizar e administrar a Igreja Metodista em diferentes áreas do país. A 3ª Região abrange algumas regiões do estado de São Paulo, onde existem várias Igrejas Metodistas locais. Originalmente, a região fazia parte da Região Eclesiástica do Centro, juntamente com a 5ª Região Eclesiástica. No entanto, em 1955, no 7º Concílio Geral, foi aprovada a proposta de uma nova divisão, e a 3ª Região, juntamente com outras duas, surgiu, passando de três para cinco o número total de Regiões. 

No início, a 3ª Região Eclesiástica abrangia os distritos da Liberdade, da Luz, Suburbano de São Paulo e do Vale do Paraíba. Porém, logo após a sua constituição, em 1957, a Região passou a se subdividir em Distritos Eclesiásticos diferentes dos originais, como a Central em São Paulo, Tucuruvi, Penha, Santo Amaro, Rudge Ramos e Vale do Paraíba. Nesse período, a 3ª Região era composta por 60 paróquias, 4 distritos eclesiásticos, 8010 membros e 21 ministros ativos, entre outros.

Ao longo dos anos, a Igreja Metodista na 3ª Região passou por várias transformações e adaptações, acompanhando o crescimento e a dinâmica da Igreja em todo o Brasil. No qüinqüênio 1965-70, a Igreja Metodista adquiriu mais uma Região Eclesiástica, a 6ª Região (Paraná e Santa Catarina), totalizando seis bispos, e o Rio Grande do Sul tornou-se a 2ª Região.

A partir de 1970, a Igreja Metodista na 3ª Região iniciou um período de mudanças significativas em sua configuração e ação pastoral. A estrutura das paróquias foi revista, priorizando a igreja local, e foram criados novos critérios para a eleição episcopal nas Regiões. Nesse período, surgiram também programas como “Dons e Ministérios”, buscando valorizar a diversidade dos dons dentro da Igreja, e foram estabelecidas instituições regionais que apoiaram o crescimento da missão metodista.

As décadas seguintes foram marcadas por desafios e transformações no contexto religioso em São Paulo e em todo o país. A Igreja Metodista enfrentou diversas tendências e movimentos religiosos, mas manteve sua identidade metodista e wesleyana ao longo desse processo. Houve um fortalecimento da espiritualidade metodista e um maior empenho na unidade e diversidade dentro da Igreja.

Atualmente, a Igreja Metodista na 3ª Região Eclesiástica continua a ser uma parte vital do Corpo de Cristo no Brasil, com uma vitalidade evangelizadora e missionária. A busca pela unidade e a valorização dos dons e ministérios continuam sendo fundamentais para a sua atuação na sociedade brasileira. Através de suas igrejas locais, movimentos e instituições, a 3ª Região Eclesiástica contribui para o crescimento e fortalecimento do metodismo e do evangelho de Jesus Cristo em toda a região.

O QUE É O METODISMO?

NOSSO CREDO RELIGIOSO apoia-se na Palavra de Deus, revelada, percebida e atestada pela consciência iluminada do homem. O teste final de sua validade há de ser encontrado nas quentes arenas da vida, onde os homens se esforçam, tropeçam e pecam, para depois levantar-se outra vez e entregar-se aos braços de um Deus sempre amoroso e perdoador. As principais correntes da fé evangélica participam das verdades que sustentamos. É nossa glória estar na corrente central do pensamento cristão através do mundo. Isto somente reforça a validade de nossa fé e enfatiza a larga aceitabilidade de nossa confissão. É oportuno tentarmos estabelecer sucinta, mas, claramente, os principais elementos “em que creem os metodistas”.

Deus é o PODER CRIADOR e mantenedor que opera através de toda a vida existente. Deus é uma Pessoa. Sua personalidade transcende nossas limitadas personalidades humanas, mas somos feitos semelhantes a Ele, espiritualmente. Ele conhece cada um de nós, e podemos ter amizade pessoal e consciente com Ele. Deus é amor. Ele ama a toda criatura que fez e anela por sua salvação e perfeição. Seu amor não é tão somente desprendido, mas suplica por nosso amor, em troca. Não há conflito entre a misericórdia e a justiça de Deus. Ambas emanam de seu amor infinito por seus filhos.

JESUS É O FILHO DE DEUS, eterno e divino, Verbo feito carne que habitou entre os homens. Em sua vida sem pecado revelou a natureza de seu Pai e nosso Pai. Sua infinita sabedoria é nossa guia. Seu sacrifício na cruz é nossa redenção, e sua ressureição dentre os mortos nossa garantia de vida eterna. Ele vive hoje – sempre presente embora visível – e na sua aceitação como Salvador e Senhor está a esperança da humanidade para o presente e para o futuro.

DEUS SE MANIFESTA em nossa vida diária como o Senhor e Doador da vida: interpretando a vontade divina a nossos corações humanos, confortando-os em nossas dolorosas aflições, despertando dentro de nós uma fome pelo eterno, apressando nossas almas ao arrependimento do pecado, testemunhando com nosso espírito que somos filhos de Deus. A natureza do Espírito Santo está além de nosso entendimento, mas o glorioso fato de sua presença e poder em nossas almas e corações e é certeza central de nossa experiência.

AS ESCRITURAS SÃO O REGISTRO da revelação de Deus através de homens inspirados, e o relato de seu justo propósito na História, de levar a humanidade à perfeição em Cristo. A Bíblia contém tudo o que Deus requer para a salvação e é a suficiente regra de fé e conduta. Ela tem resistido a todos os esforços para destruí-la, sobrevivido ao estudo científico de suas páginas, e por sua permanente verdade tem confundido críticos, e está hoje mais historicamente crível e mais espiritualmente indispensável que nunca. É a eterna Palavra de Deus a todas as gerações.

SUSTENTAMOS COMO CENTRAIS a dignidade e inviolabilidade de toda pessoa humana. O homem feito à imagem espiritual de Deus e participa de seu caráter. As Escrituras nos lembram de que o homem é um pecador decaído da glória de Deus. Ele pode, entretanto, por meio da graça, levantar-se acima de seu pecado e das circunstâncias que o rodeiam. Sua glória está na sua humanidade e não na sua raça ou cor. Dotado com liberdade de escolha, ele pode descer ao mais profundo inferno, ou elevar-se ao mais alto céu. Nele, como pessoa, todas as finalidades do Universo e todos os movimentos do eterno propósito de Deus encontram significado e valor.

ESTA EXPERIÊNCIA NOS VEM através da fé em Jesus Cristo como Salvador e Senhor. O ato envolve penitência por pecados passados e a aceitação de sua misericórdia e perdão. A salvação não vem pelo nosso próprio esforço ou qualquer realização meritória. É dádiva gratuita da graça de Deus que “mostra seu amor para conosco, pois, quando éramos ainda pecadores, Cristo morreu por nós”. Assim, Deus tira nossos pecados, restaura sua imagem em nossos corações, e garante-nos um novo nascimento, uma outra oportunidade, pelo merecido amor de Seu Filho e nosso Salvador, Jesus Cristo.

É PRIVILÉGIO DE TODA ALMA redimida saber que seus pecados estão perdoados, e estar certa, pelo testemunho do Espírito Santo com seu espírito, que ela é filha de Deus. A razão como a Lei, pode ser um aio, que nos levará a Cristo. Contudo, nossa profunda segurança não é o resultado da razão, mas do arrependimento e da fé. Nossa fé, muitas vezes é revestida de intensa emoção, mas na radiante certeza de um Cristo que habita em nós, cuja misericórdia nos limpou, cujo amor nos salvou, e cuja presença dentro de nossos corações nos deu poder e vitória. A experiência do homem integral, avaliando as Escrituras, a tradição e a razão, pela ação vital do Espírito Santo, torna-se a autoridade fundamental em certeza religiosa.

A GRAÇA DE DEUS não é manifesta tão somente pelo perdão de nossos pecados, mas também pelo poder redentor que trabalha em nós para aperfeiçoar-nos no amor. Cremos que a mudança fundamental realizada no indivíduo pela regeneração é um processo dinâmico que pelo crescimento na graça, move-se para a “medida da estatura de plenitude de Cristo”. Podemos extinguir o Espírito e cair da graça, mas nosso divino destino é o perfeito amor e santidade na vida.

A IGREJA NÃO É ESSENCIALMENTE uma instituição humana, mas a comunidade dos crentes do qual Jesus Cristo é Senhor, e nos quais Ele age pelo seu Espírito Santo. É dádiva de Deus para a Salvação do mundo, pela proclamação do Evangelho a todos os homens. Ela afirma que o Verbo encarnado de Deus, Jesus Cristo, reivindica o domínio de toda a vida humana. A Igreja é universal por natureza, sendo maior que qualquer grupo que reclame representa-la como exclusividade, e está acima de todas as nações e culturas nas quais encontra seu lar. Pertencendo a todas as eras, desafia o passar dos séculos e inclui em sua comunhão visível e invisível, tanto os vivos como os mortos. Embora composta de elementos humanos e divinos, sua natureza não se reduz pela fraqueza daqueles pecadores perdoados que compõem sua comunhão. É o corpo de Cristo, o instrumento de seu poder ativo, e o vínculo de camaradagem entre todos aqueles que estão debaixo de seu poder.

O HOMEM, cuja existência terrena é tão breve e incerta tem, entretanto, a eternidade implantada em seu coração pelo Criador. As palavras de Jesus e sua ressurreição dentre os mortos trazem-nos a certeza de que para o cristão, a morte será tragada na vitória. Deus é eterno, Jesus conquistou a sepultura, e nós, unidos pela fé com Ele, participamos de sua vida eterna. A morte é a passagem de um mundo natural para um mundo espiritual. Atrás do tênue véu que esconde de nossos olhos humanos o País Bem- aventurado, está alguém que foi preparar lugar para nós e que virá um dia receber-nos para si mesmo, na glória eterna. O céu é uma perfeita companhia de crente Jesus e a morte não é mais do que uma transição para uma união mais profunda com Ele.

NOSSA HISTÓRIA

O movimento metodista teve seu início há quase três séculos, na Inglaterra. Era uma época em que a sociedade inglesa passava por rápidas transformações. Milhares de pessoas saíam da zona rural, que era controlada por grandes proprietários, para procurar trabalho nas novas indústrias das cidades. Era uma época em que o povo vivia na miséria, trabalhando longas horas e só ganhando o mínimo necessário para sua sobrevivência.

As pessoas moravam em cortiços, sem as mínimas condições e, quando ficavam doentes, não tinham acesso a médicos. As crianças não iam à escola porque, em geral, trabalhavam para ajudar seus pais. Havia grande número de viciados, especialmente de alcoólatras. A Igreja Anglicana era a igreja principal da época, mas não se preocupava com o sofrimento do povo e estava acomodada na prática de cultos alienados. Havia outras pequenas igrejas e grupos religiosos promovendo a renovação, mas quase todas se mantinham na piedade individual, sem qualquer compromisso com a sociedade. As igrejas tentavam salvar o indivíduo sem, entretanto, lutar por uma sociedade mais justa.

Neste contexto, de sofrimento do povo e de igrejas alienadas, um jovem sacerdote chamado John Wesley teve sua vida radicalmente mudada através de uma experiência religiosa em 24 de maio de 1738. Sentindo-se amado por Deus e, desafiado a criar um movimento para renovar a Igreja Anglicana, ajudou as pessoas a conhecerem o amor de Deus e a trabalharem por um mundo melhor. Através de pequenos grupos, Wesley organizou milhares de pessoas em equipes, procurando ser fiel a Deus através de uma vida santificada.

John Wesley sentia que ser apenas convertido não era suficiente. Para ser cristão verdadeiro, a pessoa precisava ter fé em Cristo, sentir o amor de Deus e pôr em prática essa fé. Por isso, desde o início, os metodistas, além de evangelizar, visitavam os presos, criavam escolas e desenvolviam obras sociais. Ser metodista significava refletir o amor de Cristo em todas as dimensões da vida. O povo metodista do passado não limitava sua prática da fé com crenças, ou com projetos assistencialistas, mas também lutando contra a escravidão. Wesley entendia que tanto Satanás como o pecado viviam no coração das pessoas e também nas estruturas sociais. Assim, a unidade da conversão individual e a transformação da sociedade sempre foram características da Igreja Metodista.

Para Wesley não era correto, tampouco bíblico, criar uma nova Igreja. Na sua visão, a divisão da família cristã não pertencia ao projeto de Deus. Por isso, o movimento metodista sempre teve um grande interesse na unidade cristã. A Igreja Metodista começou como um movimento de renovação, sem qualquer pretensão de criar uma nova igreja. Somente depois da morte de John Wesley é que surgiu a Igreja Metodista, quando já não havia mais possibilidade de continuar dentro da Igreja Anglicana.

fonte: Momentos Decisivos do Metodismo, Prof. Duncan Alexander Reily – Imprensa Metodista

Nome: John Wesley  
Nascimento: 17 de junho de 1703,
Local: Epworth (Inglaterra)
Falecimento: 2 de março de 1791,
Pais: Samuel e Suzana Wesley 


Samuel Wesley, pai de John Wesley, não era uma pessoa querida pelos seus paroquianos e, por isso tanto, ele como a família, sofreram alguns ataques violentos. Na noite de 9 de Fevereiro de 1709, deitaram fogo à reitoria. Uma das mais conhecidas histórias sobre John Wesley refere-se ao seu salvamento, quando tinha cinco anos de idade, por um homem firmado nos ombros de outro, pouco antes de o teto ruir. O grito de Susanna “não é este um tição retirado do fogo?” tornou-se uma profecia. O próprio John foi, mais tarde, influenciado pela convicção da mãe de que Deus tinha uma missão especial para ele.

John Wesley viveu na Inglaterra do Século XVII, quando o cristianismo, em todas as suas denominações, estava definhando. Ao invés de influenciar, o cristianismo estava sendo influenciado, de maneira alarmante, pela apatia religiosa e pela degeneração moral. Dentre aqueles que não se conformavam com esse estado paralizante da religião cristã, sobressaiu-se John Wesley. Primeiro, durante o tempo de estudante na Universidade de Oxford, depois como líder no meio do povo. John Wesley pertencia a uma família pastoral, que vivia em Epworth, numa região afastada de Londres. Em seu lar absorveu a seiva de um cristianismo genuíno.

Ao entrar para a universidade, Wesley não se deixou influenciar pelo ceticismo cínico e nem pela libertinagem. Como reação a isso formou. junto com outros poucos jovens, o chamado “CLUBE SANTO”. Os adeptos dessa sociedade tinham a obrigação de dar um testemunho fiel da sua fé cristã, conforme as regras da Igreja Anglicana. Eram rígidos e regulares em suas expressões religiosas, no exercício de ordem espiritual e no auxílio aos pobres, aos doentes e aos presos. Por causa dessa regularidade, os demais companheiros da universidade zombavam e ridicularizavam os membros do “CLUBE SANTO” dando-lhes o apelido de “METODISTAS”.

Embora cumprisse fielmente a disciplina do “clube”, John Wesley não se sentia satisfeito. Durante anos lutou com esse sentimento de insatisfação até que em 24 de maio de 1738, na rua Aldersgate, em Londres, passou por uma experiência espiritual extraordinária, que é assim narrada em seu diário:

“Cerca das nove menos um quarto, enquanto ouvia a descrição que Lutero fazia sobre a mudança que Deus opera no coração através da fé em Cristo, senti que meu coração ardia de maneira estranha. Senti que, em verdade, eu confiava somente em Cristo para a salvação e que uma certeza me foi dada de que Ele havia tirado meus pecados, em verdade meus, e que me havia salvo da lei do pecado e da morte. Comecei a orar com todo meu poder por aqueles que, de uma meneira especial, me haviam perseguido e insultado. Então testifiquei diante de todos os presentes o que, pela primeira vez, sentia em meu coração”.

Para John Wesley, clérico da Igreja Anglicana, esse novo sentir não era como a conversão de um infiel a Cristo. Era um aprofundar na compreensão do que significa ser cristão. O movimento metodista, por muitas décadas não se organizou em igreja. Na Inglaterra o movimento organizou-se em igreja somente pouco depois da morte de John Wesley em 22 de março de 1791. Sendo assim, o fundador do movimento metodista morreu Anglicano, sem nunca ter pertencido à Igreja Metodista. 

A primeira coisa a estabelecer é que o Metodismo faz parte integrante do movimento Protestante. Herdeiro da Reforma, mediante a Igreja da Inglaterra, cujos 39 Artigos formam a base dos Artigos de Religião do Metodismo e cuja liturgia (O Livro de Oração Comum) exerceu grande influência na liturgia metodista, o Metodismo  aceitou  as  três colunas principais da Reforma: A autoridade das Escrituras, a Justificação pela Fé e o Sacerdócio Universal dos crentes (que também podemos simbolizar pelos “3 Ps”, ou seja, palavra, perdão e povo).

Cinco chaves para compreender a herança metodista:

1. A experiência do dia 24 de maio de 1738: A famosa experiência de John Wesley numa reunião à Rua Aldersgate, em Londres, a exemplo de Martinho Lutero, na torre de Wittenberg, marcou o clímax de uma longa busca de um relacionamento satisfatório com Deus em Cristo. Qual é o sentido desse evento? Pela descrição do próprio Wesley, os metodistas têm, tradicionalmente, enfatizado o “coração aquecido”. E certamente a emoção faz parte da experiência; afinal, o ser humano não é só cérebro, mas os sentimentos e emoções lhe são molas de ação. Mas uma das coisas mais importantes da descrição do próprio Wesley sobre “Aldersgate” é que houve uma íntima ligação entre a experiência religiosa e a sua doutrina. Uma outra maneira de dizer a mesma coisa, seria dizer que a compreensão doutrinária de Wesley (muito embora profundamente fundamentada na Palavra de Deus) surgiu de sua experiência. Teologia, para ele, não é algo distante, especulativo, divorciado da vida; pelo contrário, ela nasce da vida religiosa, ou seja, da experiência da salvação. Por isso vale a pena estudarmos o registro de Wesley sobre o que aconteceu no dia 24 de maio. Podemos fazer isso em poucas linhas, mas cada uma poderia fornecer matéria para uma boa discussão.

• A experiência de Wesley nasceu da Palavra de Deus: alguém lia o prefácio de Lutero à Epístola aos Romanos. Foi no momento em que Wesley ouviu da “mudança que Deus opera no coração pela fé em Cristo” que ele experimentou a fé! Confirmou o que Paulo dissera que “a fé é pelo ouvir e o ouvir pela palavra de Deus” (Romanos 10.17).

 

• A experiência foi fundamentalmente do dom da fé, mas Wesley aprendeu, com Lutero, no que consiste a verdadeira fé: é confiança (não crença) – “Senti que confiava em Cristo, Cristo tão somente para minha salvação…”. Fé, então, é confiar a vida nas mãos de Cristo, estabelecer aquele relacionamento pelo qual Cristo se torna Senhor e Salvador pessoal.

 

• Com o ato de confiar sua vida a Cristo, estabelecendo um novo relacionamento, Wesley foi perdoado, ou seja, percebeu que Cristo havia tirado seus pecados – não era apenas o cordeiro de Deus, que tira pecado do mundo, mas o Salvador que tirava os pecados do próprio Wesley.

 

• Daquilo que Cristo lhe fizera, o Espírito Santo testificou, pois no mesmo momento “uma segurança” lhe foi dada de que Cristo havia tirado seus pecados e o havia salvado “da lei do pecado e da morte”.

 

• Só? Não, há mais! Wesley diz que começou a orar pelos inimigos e perseguidores! Sem mencionar o Novo Nascimento, Wesley demonstrava nesta nova capacidade de perdoar que Deus não havia apenas lhe perdoado, mas também transformado o seu íntimo. Como os metodistas cantam: “Tu não somente perdoas, purificas também, ó Jesus”. Concluímos, então, que uma das principais características do metodismo wesleyano era, ao invés de teologia especulativa, uma íntima conexão entre a doutrina e a experiência

2. A evangelização: Devemos lembrar que não foi apenas John Wesley que teve uma experiência religiosa transformadora em maio de 1738; Charles, seu irmão, também, no domingo anterior, recebera o dom da fé. Charles traduziu sua experiência, que ocorrera no Domingo de Pentecostes, num hino que lembra as línguas de fogo do primeiro Pentecostes: “Mil línguas eu quisera ter”. Em certo sentido, enquanto John viajava por toda parte, proclamando as boas novas de vida nova em Cristo Jesus por meio da pregação, Charles, com 6500 hinos de sua autoria, também evangelizava.

Há certas características da evangelização wesleyana que deviam ser notadas: primeiro, o Século XVIII presenciou o nascimento de uma nova classe social, a dos operários. Os primeiros representantes dessa nova classe eram mineiros. Oprimidos pelas longas horas de trabalho árduo e baixo salário, os mineiros não eram levados em conta pela igreja oficial, e poucos deles procuravam a mesma. Foi aos mineiros de Kingswood e Bristol que os metodistas foram primeiro para lhes oferecer vida em Cristo! Mais tarde, com o crescimento das fábricas, os operários e operárias seriam objeto da mensagem metodista e fariam parte integrante da sociedade e partes metodistas. Muito antes de a Igreja Anglicana tomar consciência da própria existência dessa nova classe, os metodistas já lhes ministravam.

A segunda coisa a notar é que havia necessidade de descobrirem-se novos métodos e agências para atender a essa nova situação, e a pregação ao ar livre provou ser o meio para atingir essa nova classe. George Whitefield e Wesley pregavam aos mineiros ao saírem das minas. Nas praças de Londres, Bristol e Newcastle, os metodistas ofereciam Cristo ao público atônito com essa inovação! Mais se a pregação ao ar livre provou ser o instrumento, os agentes, muito mais do que ministros ordenados, passaram a ser os pregadores leigos (pregadores sem formação teológica). Desde a pregação do jovem Tomas Maxfield, que trabalhava com Wesley como “filho no Evangelho” no seu centro em Londres e que Suzana Wesley considerava tão vocacionado como seu próprio filho John, pessoas com graça (experiência pessoal de fé), dons (capacidade para proclamar claramente as boas novas) e frutos (resultados positivos da sua pregação em termos de despertamento e conversão) e que se dispunham a trabalhar nos lugares onde Wesley indicava, mais que se comprometiam a ler pelo menos 6 horas por dia, militavam como profetas (proclamadores) sob a orientação de Wesley.

A terceira coisa a ser notada nesta evangelização metodista é sua estreita ligação com o serviço ao povo e ação social. Talvez baste lembrarmos que a última carta que o velho Wesley escreveu foi endereçada a William Wilberforce, encorajando na sua luta no parlamento inglês contra escravidão.

3. O povo: Wesley nunca teve a intenção que o metodismo passasse a ser uma nova igreja: ele pretendia que fosse um movimento em sua amada igreja anglicana (da qual nunca saiu) para seu despertamento e capacitação para o exercício da missão de Deus. A preocupação de John Wesley era o POVO. Ele dizia que seus seguidores eram “o povo chamado metodista”. Já vimos acima que, deste povo, Wesley conseguiu seus pregadores e pregadoras – pois Wesley permitia que mulheres, como Mary Bosanquet, pregassem. Assim Wesley descobriu um modo fácil de expressar a doutrina de Lutero, o “Sacerdócio Universal do Crente”.

Mas a ênfase do povo não pára com a pregação de leigos, por mais importante que fosse: o Metodismo via sua missão como uma realizada pelo povo e em prol do povo. É por isso que nos principais centros do metodismo wesleyano surgiram escolas, orfanatos, ambulatórios, fundos de empréstimo, centro de artesanato etc.. Foi por isso que Wesley e os metodistas lutavam contra a escravidão que degradava e explorava o povo africano. Foi para poder servir o povo que o próprio Wesley procurava ganhar todo dinheiro possível e economizar o máximo – não para ficar rico, mas para ter recursos para “dar tudo que for possível”. Por isso, já nos seus dias de professor em Oxford, ele havia economizado dinheiro que normalmente teria gastado com carvão para sua lareira. Ele aguentava o frio dos invernos ingleses para ter dinheiro para pagar uma professora de uma classe de moleques pobres da cidade de Oxford.

4. Ênfase na santificação/perfeição cristã: Para Wesley, a santificação é um processo de crescimento em graça que começa no momento que, pela fé, Deus perdoa o pecador arrependido e inicia o processo da sua transformação íntima. A perfeição é um dom de Deus, pelo qual aperfeiçoa sua obra no crente, enchendo-o de amor para com Deus e o próximo. A chave para entendermos a perfeição é o AMOR. Wesley tinha muitos sinônimos para a perfeição, sinônimos esses que não inventou, mas achou na Palavra de Deus. Perfeição é pureza de coração, é imitação de Cristo, é comunhão ininterrupta com Deus e com seus propósitos, mas mais do que qualquer outra coisa, é o Amor. O estudo do livro aos Hebreus o convenceu da absoluta necessidade de santidade na vida do discípulo de Jesus.

Para John Wesley, a primeira epístola de João é o melhor comentário sobre a perfeição cristã. Nesta epístola, a ligação entre o amor e a vida cristã é patente: “aquele que diz que está na luz mas odeia seu irmão ainda está nas trevas até agora” (1 João 2.9). O mesmo autor adverte: “filhinhos, não amemos de palavras nem de língua mas por ações e em verdade” (1 João 3.18), o que muito nos lembra de Tiago que questiona a fé daquele que nada faz em prol do irmão sem roupa nem alimento (Tiago 2.14-15).

5. A ênfase missionária do Metodismo Wesleyano: Os metodistas definiram sua razão de existência em termos de “Reformar a nação, particularmente a igreja, e espalhar Santidade Bíblica em toda nação”. Acabamos de ver de como serviam impulsionados a levar as boas novas aos operários e aos pobres, geralmente negligenciados pela igreja oficial. Mas havia também algo dentro do Metodismo que o fez vencer as barreiras dos mares, pois logo ele é levado espontaneamente, para a Irlanda, Escócia, as Ilhas do Canal, para o continente europeu e para o Novo Mundo – para Antígua, no Caribe, para as Colônias que viriam a ser os EUA, para Terra Nova, parte do atual Canadá. Aliás, uma igreja que não é missionária é ou morta ou moribunda.

fonte: Momentos Decisivos do Metodismo, Prof. Duncan Alexander Reily – Imprensa Metodista

A primeira “Sociedade” metodista surgiu, em Londres, em fins de 1739 – vinte anos depois já se implantava no Novo Mundo. Em 1760, Natanael Gilbert, convertido por John Wesley, na Inglaterra, ao voltar para Antígua, no Caribe, começou a compartilhar as boas-novas com a população escrava. O mesmo impulso de missão espontânea fez o Metodismo em Virgínia e Maryland, construiu rudes capelas de pau roliço, itinerou diversas das “Três Colônias”, e até despertou vocações entre jovens norte-americanos!

Pouco depois, numa outra família de metodistas imigrantes da Irlanda, a Sra. Barbara Heck estaria pressionando seu primo e pregador metodista, Filipe Embury, a iniciar uma missão de proclamação em Nova Iorque. Bem mais para o norte, encontrava-se um jovem imigrante, Guilherme Black, engajado na pregação leiga na Terra Nova, hoje parte do Canadá. Sim, a conclusão é quase irresistível de que uma das qualidades do Metodismo nos primórdios era o seu impulso missionário, o qual o levaria, de modo próprio a muitas partes do mundo e, com tempo, faria do Metodismo um movimento verdadeiramente mundial. Só alguns anos depois dos começos mencionados é que, a pedido dos metodistas arrebanhados do Novo Mundo, Wesley e os metodistas ingleses enviaram obreiros à guisa de missionários.

O metodismo norte-americano se transforma em igreja: a Igreja Episcopal

Wesley destacou alguns dos seus melhores pregadores como missionários na América. Embora tenha ele os mandado para todos os locais mencionados acima, vamos ficar agora só com o território que passaria a ser os Estados Unidos. Quando Wesley começou a enviar obreiros para as colônias inglesas na América, já estava bem adiantado o movimento de independência e, a partir de 1775, o movimento já tomava a forma de uma Guerra de Independência. Nos oito anos de guerra, todos os missionários que Wesley havia enviado voltaram, menos um, Francis Asbury.

Asbury, que nunca mais voltou para sua Inglaterra nativa, tornou-se um dos principais líderes surgido durante os anos do conflito. Um fato curioso é que John Wesley, um inglês, não apoiara o movimento de independência, o que gerava suspeitas que os metodistas das colônias também não apoiavam-no – o que não era verdade. Apesar dessa dificuldade e desassossego causado pela guerra, o número de metodistas aumentava rapidamente. Ao fim da guerra, já contavam com uns 15000 e mais de 80 pregadores. O próprio Wesley, que não aprovara a revolução, agora deu pleno apoio na nova situação; na realidade, ele preparou uma liturgia (baseado no Livro de Oração Comum, o qual ele considerava a melhor liturgia do mundo) e ainda um livro canônico (a Disciplina) e ordenou dois pregadores como presbíteros e o Dr. Tomás Coke como “superintendente” para os metodistas na América.

Isto é, tomou os passos para que os metodistas na América se tornassem Igreja. Ele tomou um outro passo nessa direção, chegando a nomear também Francis Asbury como superintendente (ou seja, Bispo). Asbury, porém, reconheceu o espírito da independência dos metodistas na América; daí ele só aceitou a liderança mediante eleição pelos pregadores, e não nomeação por Wesley. Por volta do Natal de 1784, os pregadores se reuniram e, sob a direção de Coke, fundaram a Igreja Metodista Episcopal (antes disso, o Metodismo era movimento, não Igreja); elegeram Asbury, ainda leigo, Diácono, Presbítero e Superintendente em três dias sucessivos, e, dos seus parcos recursos humanos e financeiros, estabeleceram uma faculdade, Cokesbury College (aproveitando os nomes de Coke e Asbury, os dois “superintendentes” ou bispos) e mandaram missionários para Antígua e Terra Nova, apesar do fato de só existirem pouco mais de 80 pregadores metodistas no país. Assim, nasceu a Igreja Metodista Episcopal, a menor denominação no continente norte-americano; meio século depois era destinada a ser a maior.

Algumas das razões para isto se seguem:

• A Igreja Metodista Episcopal descobre a “fronteira”: Devemos lembrar que os Estados Unidos, em 1784, eram, na realidade, uma pequena faixa de terra desde Geórgia (sul) até o Canadá (norte), ao longo da costa do Atlântico. Mas a população branca estava emigrando para o oeste em busca de novas terras. Por conquista militar, compra e diplomacia, os Estados Unidos passaram a ser um país de dimensões continentais em apenas 70 anos!

Certos fatores fizeram com que os metodistas pudessem acompanhar a marcha para o oeste mais eficientemente que qualquer outro grupo. Uma dessas razões, sem dúvida, é o seu vigor espiritual e um outro é a sua auto-imagem. Já em 1784, os pouco mais de 80 pregadores metodistas, reunidos na Capela de Lovely Lane, em Baltimore, haviam concluído que Deus os colocou na América para “reformar o continente e espalhar a santidade Bíblica por toda a parte”.

Também o tipo do ministério metodista era admiravelmente adaptado à fronteira. O pregador metodista era chamado de “circuit rider”, ou seja, “cavaleiro de circuito”, sendo que seu circuito (paróquia) poderia ter 30, 50 ou mais lugares regulares de pregação. Assim, um pregador ordenado, auxiliado por muitos leigos e leigas, atendia a uma grande área na fronteira, esparsamente povoada. E, finalmente, os metodistas aprenderam dos presbiterianos um tipo de evangelização muito apropriado à fronteira, o “camp meeting” , ou “reunião de acampamento”, na qual famílias vinham de consideráveis distâncias, de carroças, e acampavam durante uma semana ou mais, assistiam pregação pelo menos três vezes por dia e em que se realizavam conversões em grande número. Havia, muitas vezes, manifestações emocionais; estas espantaram os presbiterianos, mas Bispo Asbury via nos acampamentos “o tempo de safra” dos metodistas.

• O Metodismo americano e a escravidão: Hoje a condenação da escravidão é universal; no Brasil veio sua emancipação formal com a “Lei Áurea”, e instaurou-se uma luta sem trégua contra o mal mais sutil do racismo. Mas, outrora, poucas foram as vozes que se levantaram contra a instituição, praticada no mundo inteiro. Os primeiros escravos negros foram introduzidos em territórios, que mais tarde seriam os EUA, nos primórdios da colonização inglesa. Passou a ser ponto pacífico que a agricultura nas colônias dependia do escravo. O próprio Padre Antônio Vieira diria, no mesmo século: “Sem Angola, não há Brasil”. Os primeiros a questionarem o sistema foram os “amigos”: John Wesley também condenava a escravidão como uma “vilania execrável”. Ele não admitia, sob hipótese alguma, que um ser humano fosse dono de um outro; daí escreveu contra a escravidão e encorajava Wilberforce na sua luta no parlamento inglês contra o mal. Mas nas colônias americanas, quem laborava nas fazendas de arroz eram os negros e, apesar da Declaração da Independência (1776) afirmar como uma “verdade auto-evidente” que todos foram dotados pelo Criador do Direito da Liberdade, no novo país (EUA) a escravidão não foi abolida na época.

As poucas vozes de protesto ao sistema não foram suficientes para levantar a consciência da Igreja de modo geral, e, com o tremendo aumento da produção do algodão, criou-se um argumento tanto filosófico como a Bíblia que apresentava a escravidão não como um mal, senão como bem positivo. Foi só de 1830 em diante que o movimento de abolição começou a crescer; e nesta luta muitos metodistas participaram plenamente. Mas a tragédia foi que a Igreja como um todo não aderiu logo ao movimento. As grandes denominações chegaram até a se racharem, resultado em Igrejas “do Norte” e “do Sul”. Isto atingiu o Metodismo em 1844, nascendo a Igreja Metodista Episcopal do Sul. No Norte do país, freqüentemente os abolicionistas metodistas eram também seus melhores evangelistas; no Sul, infelizmente, a defesa da escravidão foi como um cunho, separando as coisas consideradas espirituais das seculares. Esta infeliz dicotomia iria influenciar o pensamento e a ação das missões destas Igrejas no Brasil (Metodistas, Presbiterianas, Batistas). Aliás, parte do desafio para o Metodismo hoje é reapropriar a visão e a práxis de Wesley.

• Metodismo e a educação: A Escola Dominical nasce da educação popular organizada por Roberto Raikes, em 1780. Wesley apoiou enquanto muitos questionavam o uso do domingo para ensinar crianças a ler e escrever. Francis Asbury fundou uma das primeiras Escolas Dominicais nos Estados Unidos. Já vimos como, na “Conferência de Natal”, a Igreja Metodista Episcopal fundou o Cokesbury College que, entanto, foi de curta duração. A partir de 1820, quando o Concílio Geral permitiu a nomeação de itinerantes metodistas como reitores de instituições de ensino, o Metodismo começou a contribuir significativamente para a educação superior do país. Demoramos em organizar seminários teológicos por causa do nosso conceito de vocação e métodos de treinamento, a saber: o sistema de aprendiz, pelo qual um jovem pregador aprendia o ofício acompanhando um mais experiente no seu trabalho, e abundantes leituras. Brevemente, porém, o Metodismo, ao lado de outras denominações, povoaria os EUA de escolas de todos os níveis, inclusive o universitário. A escola passaria a ser uma das mais evidentes contribuições às missões que fundava em todos do continentes.

• O Metodismo e as missões: A era de missões protestantes modernas foi inaugurada por William Carey, batista, no final do Século XVIII. Já vimos a ênfase missionária no Metodismo Wesleyano. Apenas em esboço, vejamos como o metodismo na América do Norte seguiu esta tendência:

 – A evangelização da fronteira;

 – A evangelização de indígenas, a partir de 1820;

 – A evangelização de escravos negros, desde a mesma época;

 – Missões no além-mar, a partir da missão em Libéria, fundada em 1832.

fonte: Momentos Decisivos do Metodismo, Prof. Duncan Alexander Reily – Imprensa Metodista

Junius Estaham Newman, pastor metodista e Superintendente Distrital, foi o pioneiro da obra metodista permanente no Brasil. “J. E. Newman, recomendado para a Junta de Missões para trabalhar na América Central ou Brasil”: essa foi a nomeação que ele recebeu em 1866, na Conferência Anual. Após ter servido durante a Guerra Civil Americana, como capelão às tropas do Sul, observou que muitos metodistas do Sul emigraram para as Américas do Sul e Central e acompanhou-os.

A Guerra deixou endividada a Junta, sem possibilidade de enviar obreiros para qualquer local. Newman financiou sua própria vinda ao Brasil, com suas modestas economias. Chegou ao Rio de Janeiro em agosto de 1867, mas fixou residência em Saltinho, cidade próxima a Santa Bárbara do Oeste, província de São Paulo. Desde 1869, pregou aos colonos, mas, dois anos mais tarde, no terceiro domingo de agosto, organizou o “Circuito de Santa Bárbara”.

O primeiro salão de culto – antes era uma venda – foi uma pequena casa, coberta de sapé e de chão batido. Newman trabalhava com os colonos norte-americanos e pregava em inglês. Um dos motivos da demora de Newman em organizar uma paróquia metodista, é que ele pregava, principalmente para metodistas, batistas, presbiterianos e a todos que desejassem ouvir sua mensagem, pensando ser mais sábio unir os “ouvintes” em uma única igreja, sem placa denominacional. Mas depois, todas as denominações organizaram-se em igrejas, de acordo com sua origem eclesiástica nos EUA. Newman insistiu, através de suas cartas, para que os metodistas norte-americanos abrissem uma missão em nosso país. Em 1876, a Junta de Missões da Igreja Metodista Episcopal Sul, despertada através da publicação das cartas nos jornais metodistas nos EUA, enviou seu primeiro obreiro oficial: John James Ranson. Dedicou-se ao aprendizado do português para proclamar a boa-nova aos brasileiros.

J. E. Newman e sua família mudaram-se para Piracicaba, SP, onde permaneceram entre 1879 e 1880, quando as filhas de Newman, Annie e Mary, organizaram um internato e externato. O “Colégio Newman” é considerado precursor do Colégio Piracicabano, hoje Unimep (Universidade Metodista de Piracicaba).

Os dez primeiros anos de trabalho com os brasileiros

O período entre 1876 e 1886 é geralmente denominado de “Missão Ransom”, visto que ele organizou toda a estrutura. Ele não teve pressa para estabelecer o campo de trabalho: descartou Piracicaba, fez um reconhecimento do Rio Grande do Sul, mas escolheu o Rio de Janeiro como centro estratégico para propagar o metodismo. J. J. Ransom iniciou sua pregação mais tarde, a fim de dominar o português. Em janeiro de 1878, iniciou sua pregação em inglês e português, no Rio de Janeiro. Os primeiros brasileiros foram recebidos à comunhão da Igreja em março de 1879, sem serem rebatizados. No mês de julho seguinte, quatro pessoas da família Pacheco foram recebidas.

Ransom casou-se com Annie Newman, no Natal de 1879, que veio a falecer em meados do ano seguinte. Ele regressou aos Estados Unidos em busca de mais pessoas dispostas a contribuir na tarefa missionária no Brasil. Voltou, dois anos depois, com James L. Kennedy, Marta Watts e o casal Koger. Todos contribuíram na expansão geográfica da missão e também para a educação.

A educadora Marta Watts veio como missionária com a tarefa de educar crianças e moças brasileiras. O Colégio Piracicabano, primeiro educandário metodista no Brasil, foi fundado em 13 de setembro de 1881, com a matrícula de apenas uma aluna, Maria Escobar. Fatores como a capacidade e dedicação da diretora e o novo método do Colégio chamaram novas alunas, a partir do ano seguinte. O educandário foi a semente para a Unimep (Universidade Metodista de Piracicaba), criada em 1975. Frances S. Koger, ou simplesmente Fannie, fundou uma escola para crianças pobres em Piracicaba, demonstrando assim, o interesse pela educação de crianças pobres, um fato que não é tão conhecido. Além dos missionários fundadores das principais igrejas: Ransom, Rio de Janeiro, 1879; Koger, Piracicaba, 1881 e São Paulo, 1884; e Kennedy, Juiz de Fora, 1884 – destacam-se, por exemplo, três obreiros leigos que precederam Kennedy na preparação do trabalho em Juiz de Fora e outros primeiros obreiros leigos.

Bernardo de Miranda, Ludgero de Miranda, Felipe Relave de Carvalho e Justiniano de Carvalho receberam nomeação episcopal em 1886. Na Conferência Anual de 1887, com exceção de Ludgero, todos foram admitidos à Conferência, em caráter de experiência. Mas na Conferência Anual de 1890, o bispo J. C. Granbery admitiu os quatro obreiros, ordenando-os diáconos. Algum tempo depois, leigas foram chamadas de “Mulheres da Bíblia”, ocupando-se com visitações e leitura da Bíblia com outras mulheres. Em 1° de janeiro de 1886, foi publicada a primeira edição do Metodista Católico, atual Expositor Cristão.

Conferência Anual

Em setembro de 1886, foi realizada a Conferência Anual (que hoje equivale a um Concílio), na capela da Igreja Metodista no Catete, em 16 de setembro de 1886, abrangendo duas coisas diferentes: área geográfica e assembléia metodista anual. O território metodista no Brasil possuía quatro centros principais:

• Catete (Rio de Janeiro) – com duas congregações: estrangeira (com pregação em inglês) e brasileira, totalizando 63 membros. Um novo templo foi inaugurado em 5 de setembro de 1886, às vésperas da Conferência Anual.

• São Paulo – tinha apenas 13 membros arrolados, mas sem propriedades.

• Juiz de Fora e Piracicaba – possuíam templos modestos, com 31 e 70 membros, respectivamente. Nos quatro centros principais e em outros menores contavam-se 214 membros arrolados e seis pregadores locais.

A Conferência Anual formulava a estratégia da região; os itinerantes (pregadores), que eram avaliados com relação ao seu trabalho e seu caráter e recebiam nomeação do Bispo. Um motivo primordial tornava essencial a organização de uma Conferência Anual: reconhecer, com urgência, o metodismo brasileiro como pessoa jurídica, uma ênfase da 2ª Conferência Anual Missionária, em julho de 1886. O governo imperial não reconheceu a Junta de Missões como pessoa jurídica. Somente na República que a Conferência Anual foi reconhecida como pessoa jurídica, para o desapontamento da liderança da Igreja daquela época.

A necessidade de organizar uma Conferência foi reconhecida pela Conferência Geral da Igreja Metodista Episcopal Sul, que deu autorização para o primeiro Bispo visitar a Missão, para constituir a Conferência. Em virtude dos poucos membros com que a Conferência contaria, o bispo Granbery quase desistiu de realizá-la. Os obreiros nacionais ainda não eram itinerantes; Newman foi rebaixado para pregador local na Conferência dos EUA; Koger havia morrido, em janeiro de 1886 e Ransom foi “devolvido” em agosto daquele ano.

Apenas o chamado “Trio de Ouro” participou do evento: Kennedy (evangelista, construtor de igrejas e o historiador do metodismo brasileiro, com o livro “Cincoenta Annos de Methodismo no Brasil”); Tarboux (pregador e pastor das principais Igrejas Metodistas e primeiro bispo da Igreja Metodista do Brasil, eleito em 1930) e Tucker (agente da Sociedade Bíblica Americana e fundador do Instituto Central do Povo). O Bispo convocou os três membros para a organização da Conferência Anual, muito simples e breve, mas um dos momentos decisivos do metodismo brasileiro.

fonte: Momentos Decisivos do Metodismo, Prof. Duncan Alexander Reily – Imprensa Metodista

O crescimento da Igreja no Brasil 

• No Sul e Sudeste: A Igreja Metodista foi crescendo no Rio Grande do Sul, em São Paulo, em Minas Gerais e no Rio de Janeiro.

• No Norte e Nordeste: No Norte do Brasil, o Rev. Justus Henry Nelson trabalhou por muitos anos fundando igrejas no Amazonas e no Pará. No nosso hinário evangélico, temos muitos hinos do Rev. Justus H. Nelson (veja os hinos 82, 121, 130, 265, 286, 295, 388, 453, 457). Também o Rev. Willian Taylor trabalhou no Nordeste, fundando igrejas no Pará, Maranhão e Bahia. Uma coisa muito triste foi a falta de apoio das juntas de missões para o trabalho metodista no Norte e Nordeste do Brasil. Os missionários do Sul e Sudeste do Brasil também não se interessavam pelo trabalho missionário por causa da distância desta região de São Paulo e Rio de Janeiro. O Rev. Justus H. Nelson morreu em Belém do Pará, onde está sepultado. O Metodismo cresceu bastante no Sudeste do Brasil (Rio de Janeiro e São Paulo), que até hoje são as maiores regiões da Igreja Metodista no Brasil. Durante o período em que esteve no Brasil, o Rev. John James Ransom fundou um jornal chamado “O Metodista Católico” (1886) que no ano seguinte mudou de nome, passando a se chamar “Expositor Cristão”. Este nome existe até hoje, é o nosso jornal Metodista.

A autonomia da Igreja

Como a Igreja cresceu, era necessário que se tornasse independente dos Estados Unidos. Após muita discussão, a Igreja Metodista tornou-se independente em 2 de setembro de 1930, em São Paulo. Elegeu-se o primeiro bispo da Igreja, chamado Willian Tarboux, que era americano. O primeiro bispo metodista brasileiro chamava-se César Dacorso Filho, eleito em 1938.

Para que uma Igreja fosse autônoma ela deveria possuir 3 requisitos:

• Auto-sustento (condições financeiras).

• Ministério próprio (pastores brasileiros).

• Auto-propagação (condições de crescer sozinha).

As Regiões Eclesiásticas

Com o crescimento da Igreja em alguns territórios do Brasil, as igrejas foram se organizando em Regiões Eclesiásticas. Cada um de nós é membro de uma  Região da Igreja. No começo existiam apenas as regiões do Centro, Norte e Sul do Brasil. Mais tarde a Igreja ficou assim organizada: 1ª Região: Rio de Janeiro; 2ª Região: Rio Grande do Sul; 3ª Região: São Paulo capital e Região Leste do Estado; 4ª Região: Minas Gerais e Espírito Santo; 5ª Região: Interior de São Paulo, Goiás, Tocantins, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Triângulo Mineiro e Distrito Federal, 6ª Região: Paraná e Santa Catarina; Região Missionária do Nordeste: Alagoas, Bahia, Ceará, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Sergipe e Rio Grande do Norte; e Campos Missionários da Amazônia: Acre, Amazonas, Pará, Rondônia e Roraima.

fonte: Revista Cruz de Malta

No princípio, a 3ª Região Eclesiástica integrava, junto da 5ª Região Eclesiástica, da Região Eclesiástica do Centro. No 7º Concílio Geral, realizado em 1955, foi aprovada a proposta de uma nova divisão e a partir das três Regiões Eclesiásticas existentes (Região do Norte, Região do Centro e Região do Sul), surgiu uma nova divisão geográfica, missionária e administrativa, passando de três para cinco o número de Regiões.

Em 1956 reuniu-se, pela última vez, o Concílio Regional do Centro, presidido pelo Revmo. Isaías Fernandes Sucasas, momento histórico esse em que os/as delegados/as, separadamente, formam um Concílio Constituinte das duas novas Regiões. Na divisão inicial, a 3ª Região Eclesiástica abrangia os distritos da Liberdade, da Luz, Suburbano de São Paulo e do Vale do Paraíba. Em janeiro de 1957, realiza-se o 1º Concílio Regional da 3ª Região Eclesiástica e, ao verificar-se a primeira nomeação pastoral, contempla-se uma subdivisão da Região em Distritos Eclesiásticos com configuração diferente da original, constituída com a 3ª Região: Central em São Paulo, Tucuruvi, Penha, Santo Amaro, Rudge Ramos e Vale do Paraíba. Segundo as estatísticas da época, a 3ª Região era composta por 60 paróquias, 4 distritos eclesiásticos, 8010 membros, 21 ministros ativos, 13 inativos e 45 provisionados.

A partir do qüinqüênio 1965-70, a Igreja Metodista passa a ter seis bispos e mais uma Região Eclesiástica, a chamada 6ª Região (Paraná e Santa Catarina), ficando o Rio Grande do Sul como 2ª Região. Até este período, foi mantida a configuração administrativa e pastoral da Igreja Metodista, sendo que a configuração regional contemplava as paróquias sob condução de um pároco, tendo em si uma ou mais igrejas, os distritos, a Região e a assembléia da Igreja, enquanto a estrutura da paróquia e da igreja local contemplava os membros e os oficiais locais.

Nas igrejas local, regional e geral, existem agrupamentos de acordo com a idade e o sexo conhecidos como sociedades, federações e confederações, sendo que na área juvenil temos o/a conselheiro/a regional e na área infantil, o/a diretor/a regional de crianças. Esses movimentos passaram por momentos de dinâmica, crescimento e por fases de quase eliminação, sendo que hoje eles estão mais consolidados. O agrupamento das mulheres continua sendo o mais forte, enquanto os de jovens e juvenis têm conseguido um crescimento significativo, os movimentos que visam acolher e apoiar as crianças são reconhecidos e o agrupamento dos homens tem sido mais dinâmico do que no passado.

Nas igrejas locais e também nos campos missionários, a Escola Dominical era o fator mais determinante do crescimento e implantação das igrejas. O qüinqüênio 1960-65 foi considerado como um dos mais produtivos da Igreja. Em 1960, as estatísticas apontaram 6 distritos, 54 paróquias, 69 igrejas, 43 congregações, 8737 membros, 27 ministros ativos, 12 inativos e 42 provisionados. O Bispo Isaías Fernandes Sucasas conduziu a 3ª Região desde a sua constituição até 1965, vindo a ser substituído a seguir pelo Bispo João Augusto do Amaral, que se aposentou em 1970. Nesse período, surge um tempo de transição entre o Revmo. João Augusto e seu substituto, assumindo o episcopado o Bispo Osvaldo Dias da Silva, que permanece até o Concílio Regional de 1971.

A partir de 1970, inicia-se um período em que as modificações da configuração da Igreja começam a se instalar. A primeira mudança básica é encontrada na eleição episcopal que passa a ser realizada nas Regiões, seguindo os critérios anteriores para avaliar e eleger. É nesse momento que é eleito como bispo o Rev. Alípio da Silva Lavoura e o seu período episcopal vai de 1971 a 1977. A Igreja continua a ter duas ordens: clerical (presbítero) e diaconal (laicato). Com isso, muda-se mais uma vez os critérios para a ação pastoral, inclusive criando-se a figura de pastor suplente e alunos/as de Teologia de acordo com critérios canônicos. Surge também o pastorado de dedicação voluntária. Em 1974, desaparece o diácono como tendo condições de tornar-se pastor/a e a possibilidade do presbítero ativo e aposentado, conforme as condições de onde está nomeado, exercer outras atividades, conforme regulamentação do Conselho Regional.

As paróquias deixam de existir, instalando-se a igreja local como prioridade essencial. Os distritos eclesiásticos ainda continuam na área Regional, surgindo o Conselho Regional e o Conselho Geral. Inicia-se um fortalecimento da ação episcopal, levando-os a assumir além das funções doutrinárias, de ação pastoral, de unidade, de princípios de fé e ética, a de governo efetivo da Igreja, chegando inclusive a ter no Colégio Episcopal função administrativa, programática e executiva.

No episcopado do Bispo Alípio, inicia-se uma dinâmica pessoal na Região. As concentrações regionais mensais e o boletim episcopal possibilitam uma nova integração das igrejas locais na 3ª Região. Inicia-se no Brasil um período de planejamento e programação mais efetivos, surgindo o primeiro Plano Quadrienal – Missão e Ministério (1974), o Segundo Plano (1978), culminando com o Plano para a Vida e a Missão (1982). Como uma adequação a esse crescimento teológico, filosófico, metodológico e estrutural, surge o programa “Dons e Ministérios”, buscando caracterizar a Igreja no contexto do sacerdócio universal, sem a estrutura de cargos e poderes, estabelecendo a Igreja a partir dos dons dados pelo Espírito Santo.

Inicia-se o período de aquisição, definição e construção do Acampamento Betel e o surgir de outras instituições regionais, culminando com uma grande avanço de instituições de serviço na 3ª Região e nas igrejas locais. Além disso, em 1971, dá-se início ao IMS, como uma decisão com Concílio Geral.

Após o falecimento do Bispo Alípio da Silva Lavoura, um Concílio Extraordinário é realizado em 1977, sendo eleito o Rev. Nelson Luiz Campos Leite, assumindo o episcopado imediatamente. A partir de 1971, surgem os espaços regionais contemplando a estruturação da Igreja. É uma lenta evolução que, aos poucos, se amplia. Mais adiante as Instituições Regionais e Gerais passam a participar no apoio pessoal e financeiro, ajudando a contemplar os recursos necessários para o desenvolvimento da Missão da Igreja.

Em 1978, os bispos voltaram a ser eleitos no Concílio Geral. Como foi dito, o Colégio Episcopal passa a ter uma presença maior na vida da Igreja, sendo o seu presidente para esse exercício eclesiástico o Bispo Sady Machado da Silva. O fator econômico e financeiro ganhou grande destaque, gerando crescimento no ministério pastoral e um relativo aumento de igrejas locais, dentre elas as mais carentes, necessitando apoio e sustentação pastoral. As crises econômicas e sociais têm ocorrido constantemente, atingindo os membros, o ministério pastoral, as Igrejas locais e as áreas regionais e geral.

A Imprensa Metodista também repercutiu na área regional, bem como a presença das secretarias gerais, do Colégio Episcopal, do Conselho Geral, dos periódicos da Igreja, inclusive do órgão maior, o Expositor Cristão. Desde 1971, inicia-se a formação e a institucionalização do IMS, sendo que boa parte dos funcionários e um certo número dos professores, coordenadores e diretores, saiu de igrejas locais e do ministério pastoral.

O contexto religioso existente em São Paulo, fruto de uma efervescência de igrejas e grupos religiosos e suas tendências, atinge a Igreja Metodista de todas as formas. Nesses últimos 30 anos, houve uma convulsão religiosa. De tendência mais tradicional e institucional, a Igreja Metodista passa a ser confrontada pelos movimentos surgidos, desde o social, o da libertação, o ecumênico – nem sempre entendido ou partilhado por um bom grupo –, o pentecostal, o carismático, o institucional, o liberal, etc. É verdade que a Igreja Metodista e o movimento wesleyano têm sido reconhecido e valorizado com algo de importância vital para o Corpo de Cristo. Em todos os posicionamentos teológicos e institucionais, há a presença e a marca metodista ou wesleyana.

É verdade que essa ânsia ou busca religiosa tem motivado uma dinâmica maior em nossa espiritualidade, levando-nos a um “autêntico avivamento” em boa parte do metodismo e dos evangélicos. Há um leque enorme e sadio para abrigar e oferecer à sociedade brasileira e a Igreja, Corpo de Cristo, uma vitalidade evangelizadora e missionária. Junto com isso houve uma forte conscientização a respeito da unidade na Igreja, da diversidade e da mutualidade.

Rev. Nelson Luis Campos Leite, Bispo Honorário da Igreja Metodista