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REFLEXÕES SOBRE A PANDEMIA

    “Se quiserdes, e obedecerdes, comereis o melhor desta terra” – Isaías 1.19

     

    O comentarista Leandro Demori, do The Intercept Brasil, no corpo de sua publicação em relação a Covid-19, datada de 21 de março de 2020, disse que alguns de seus conhecidos, residentes na Itália, estavam comparando o combate à pandemia com uma guerra. Seria a terceira guerra mundial. Pegando o gancho dele, podemos considerar que estamos presenciando a terceira guerra mundial contrariando o que muitos de nós pensávamos: venceria a guerra quem mais tivesse investido no poderio bélico. Entretanto, o que temos lido, é que os países que investiram em educação e na saúde são os que estão vencendo a guerra contra o coronavírus.

     

    Entendo que todos e todas nós estamos nos sentindo impotentes por não termos como derrotar este inimigo. Estamos seguindo as orientações que os órgãos governamentais da saúde têm dado ao povo brasileiro: “Fique em casa”. A nossa casa é o lugar mais seguro em que podemos nos encontrar, estando em isolamento social, entrincheirados, fugindo da Covid-19 e orando para que ela não invada o nosso lar e nem o lar de nossos irmãos e irmãs espalhados pelo mundo.

     

    Tenho visto, via internet, alguns dos pregadores evangélicos dando tons escatológicos à pandemia; outros, tons mais messiânicos. Quem tem razão?

     

    Lendo o Antigo Testamento, percebo que todas as vezes que o povo de Deus se envolveu em pecados, violando a aliança feita com Deus, o Senhor o corrigia, entregando-o nas mãos das nações inimigas. Havendo o arrependimento e o conserto com Deus, o povo saía do cativeiro, por um período, até que, de novo, violasse a aliança.

     

    O versículo citado está em um contexto no qual o profeta Isaías alerta a nação do povo de Deus para ser obediente para que não sofresse com a correção divina, trazendo a promessa de que se quisesse e obedecesse a Deus comeria o melhor daquela terra.

     

    Intuitivamente, ao ler a Palavra de Deus, mesmo entendendo que a graça, a misericórdia e a fidelidade de Deus são grandes e que elas são as razões de não sermos consumidos e consumidas, ainda assim, tenho a forte impressão que esta pandemia trata-se de uma correção divina: primeiro, para o Seu povo; e, depois, para o restante do mundo.

     

    Tenho tido a oportunidade de assistir alguns filmes. Confesso que está muito difícil encontrar algo que valha a pena ver, pois os valores morais e éticos – na maioria dos filmes que assisti mesmo considerados como ganhadores do prêmio “Oscar” –, passam mensagens de que tudo é válido para que conquistemos nossos objetivos. Até nos filmes tidos como evangélicos, nota-se essa vertente de pensamento.

     

    Olhando para as Igrejas cristãs, nas mais variadas denominações, por meio das mensagens encontradas nas redes sociais, em que os pregadores denunciam os pecados do seu povo, as mensagens revelam o mesmo pano de fundo para as conquistas pessoais: o “para mim” vem antes do “para nós”. Os valores cristãos que deveriam nos unir são os que nos afastam, por entendermos que a nossa mensagem é mais correta do que a mensagem das outras pessoas.

     

    Nesse sentido, chamo a atenção para não cairmos nos mesmos erros. As igrejas devem ser locais de cura e de libertação e não lugar de condenação e de perdição. Que possamos entender o que o Senhor quer nos ensinar ao permitir os estragos e o ceifar de vidas pela Covid-19.

     

    Volto ao versículo citado para iluminar a minha fala com vocês:

    “Se quiserdes, e obedecerdes, comereis o melhor desta terra” – Isaías 1.19.

    Para essa promessa se realizar, encontramos duas condicionantes: 1 – Se quiserdes; e 2 – Se obedecerdes.

     

    1 – Se quiserdes → esta condicionante traz a responsabilidade dos acontecimentos futuros, em nossa vida, para nós mesmos. Há uma decisão a ser tomada! Que como povo de Deus, possamos tomar a melhor decisão. Conhecer e realizar tudo o que se espera de um povo cujo Deus é o Senhor:

    “E que amá-lo de todo o coração, e de todo o entendimento, e de toda a alma, e de todas as forças, e amar o próximo como a si mesmo, é mais do que todos os holocaustos e sacrifícios” – Marcos 12.33.

    “E será que, se diligentemente obedecerdes a meus mandamentos que hoje vos ordeno, de amar ao Senhor, vosso Deus, e de o servir de todo o vosso coração e de toda a vossa alma” – Deuteronômio 11.13.

    Deus espera ser amado e que as pessoas criadas por Ele também sejam amadas. Se nossas decisões forem tomadas com amor, nosso futuro será bem melhor do que tudo o que estamos vivenciando com a Covid-19.

     

    2 – Se obedecerdes → estamos diante de outra condicionante que, mais uma vez, coloca sobre os nossos ombros a decisão de obedecer ou não. Percebe-se que a questão da obediência não é o forte das pessoas. Por natureza, somos rebeldes, pois conhecemos a vontade de Deus e fazemos, na maioria das vezes, o contrário. Temos, a exemplo do povo descrito na Bíblia, uma dura cerviz e somos capazes de colocar nossos interesses à frente dos interesses do nosso Deus e da Sua Igreja:

    “Porque o meu povo fez duas maldades: a mim me deixaram, o manancial de águas vivas, e cavaram cisternas, cisternas rotas, que não retêm as águas” – Jeremias 2.13.

    “O qual se deu a si mesmo por nós para nos remir de toda a iniquidade, e purificar para si um povo seu especial, zeloso de boas obras” – Tito 2.14.

    O nosso desafio como povo de Deus é de obediência à aliança que firmamos com Deus quando O aceitamos como nosso Senhor e Salvador.

     

    Reafirmo a impressão que tenho: estamos sob a disciplina de Deus. Como pastores e pastoras sinto que estamos desagradando a Deus. A má conduta de alguns/algumas colegas afeta todo o corpo pastoral.

     

    Muitos/as pastores/as também têm experimentado em seu ministério o quão desagradável é lidar com membros desobedientes e rebeldes às orientações dadas por toda a liderança da igreja.

     

    Não penso que estamos no meio de um apocalipse, e sim, que estamos sofrendo disciplina da parte de Deus. Ele disciplina a todos os que são amados e amadas por Ele. Que sejamos modeláveis, segundo a obra que Deus nos dá. Que o nosso coração não seja endurecido com nossa cerviz e sejamos sensíveis à voz do Espírito Santo – que opera por intermédio da liderança da igreja, em proporções inimagináveis:

    “aquele que é poderoso para fazer muito mais abundantemente além daquilo que pedimos ou pensamos, segundo o poder que em nós opera” – Efésios 3.20.

    Ao compartilhar minhas inferências diante da pandemia mundial, tenho esperança de que peçamos perdão a Deus como Igreja de Cristo. Somos responsáveis pelas escolhas que fazemos; cavamos cisternas rotas, abandonando as orientações recebidas pela Palavra de Deus. Cometemos o pecado de deixar que o nome do Senhor seja desonrado ao pregar o que as pessoas querem ouvir e não as palavras proféticas que possam levá-las ao confronto e ao arrependimento dos pecados cometidos para sua salvação. Não seguimos e não obedecemos plena e fielmente as ordenanças dadas por nosso Senhor.

     

    Faço duas considerações por entender que estamos pecando:

     

    1 – Cremos que Jesus Cristo é Senhor de nossa vida e agimos de modo contrário à afirmação que declaramos. Analisemos nossa postura diante de alguns votos feitos a Deus quando fomos recebidos como membros da Igreja Metodista:

    “Aceitam a Igreja Metodista, como Igreja Universal de Nosso Senhor Jesus Cristo, com sua tradição e costumes, e desejam a ela se unir?”.

    A resposta de vocês foi:

    “Sim, aceito e é este o meu desejo”.

     

    Somente diante deste voto, somos pegos no pecado de perjúrio, pois assumimos a nossa tradição e nossos costumes, no entanto, sequer os observamos.

     

    2 – Tenho participado de reuniões em que falam da conduta de alguns administradores de nossas instituições de ensino, que durante os anos áureos da educação, cometeram erros que nos custaram muito. Os administradores atuais estão se empenhando para manter vivas as instituições. Está muito difícil, em função do tamanho da dívida que se acumulou durante o passar dos anos. Hoje, para vencer a crise financeira, alguns remédios amargos estão sendo aplicados. Entretanto, ao atrasar os salários dos/as funcionários/as – por não ter como pagá-los em dia –, vamos nos mantendo na iniquidade. O livro de Tiago leciona ao fazer uma séria advertência quanto a atrasar salários dos trabalhadores (Tiago 5.4). Minha oração tem sido na direção de que Deus veja a intenção que temos como Igreja de vencer a crise e restaurar a normalidade e a honradez que acompanha o nome metodista e nos abençoe, promovendo um milagre financeiro.

     
     

    Vamos pensar no aspecto global. A Igreja tem se desviado do propósito divino e os pecados se acumularam e a medida de tolerância se encheu, até que Deus resolveu permitir a Covid-19. Penso que outros vírus surgirão até que o povo de Deus ande nos caminhos altaneiros de um Deus que não nos consome por completo em função de sua misericórdia.

     

    Conclamo cada um de vocês ao arrependimento dos males causados ao rebanho de Deus, principalmente quando deixamos de pregar a pura Palavra, para pregar o politicamente correto. A prestação de contas diante de Deus, quando formos chamados à presença do Pai, será grande.

     

    Com muito amor e estima pastoral é que eu escrevo a vocês.

     

    José Carlos Peres

    Bispo presidente da Igreja Metodista 3RE

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